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Hace frío y estoy lejos de casa…

A educação nos desperta diversas inquietações que nos levam a estar em constante processo de formação. O desejo de continuar aprimorando nossa prática e nossas investigações docentes nos levou a buscar conhecer o que outros pesquisadores, grupos e escolas têm pensado sobre educação para além das práticas que nos são mais ou menos familiares. Tendo em mente que todo o aprendizado é mais efetivo quando há troca entre os sujeitos que aprendem, imaginamos que a formação que estávamos buscando deveria ser feita em parceria.

Nós trabalhamos em escolas que se identificam com a concepção sócio-construtivista de ensino e aprendizagem, o que quer dizer que acreditamos que as pessoas aprendem através da interação tríplice entre o sujeito que aprende, o objeto de conhecimento e o mediador entre o sujeito e o objeto. Acreditamos também que a aprendizagem não acontece de forma transmissiva, e portanto passiva. Trata-se, ao contrário, de um processo em que o sujeito que aprende se relaciona ativamente com o objeto de conhecimento, procurando dar a ele sentido a partir dos conhecimentos que já tem. Ele constrói, portanto, o conhecimento. Ou melhor, reconstrói, no âmbito particular, uma vez que o conhecimento não é reinventado com cada aprendiz, mas é uma reconstrução, individual, de conhecimentos já construídos socialmente.

Essa linha de teórica tem sido muito desenvolvida na Argentina e esse nos é um país de referência quando pensamos em educação, por isso imaginamos que conhecer como ela se dá ali, ou melhor, um recorte (porque conheceríamos apenas uma escola dentre milhares) seria no mínimo interessante.

Pois bem, definida a localidade geográfica, era necessário agora decidir qual escola visitar.  Como a ideia era observar uma escola com propostas inovadoras, pensando em extrair boas experiências para compartilhar com outros educadores e a partir das quais refletir sobre nossas próprias práticas, pesquisamos diferentes escolas com este perfil e nos deparamos com a Aletheia, que segundo consta, trabalha sob os mesmos princípios de Reggio Emilia, na Itália.

Muito se tem falado nessa concepção, e parece que certa empolgação tem tomado conta dos educadores. Seria no mínimo interessante, portanto, verificar, numa escola que é considerada reggioemiliana (se é que podemos utilizar esse termo) de fato o que tem encantado tantos professores ao redor do mundo. Seria essa apenas mais uma novidade, dessas que pouco trazem mudanças conceituais e teóricas sobre o ensino e a aprendizagem? Dessas que trazem mais do mesmo, apenas velhas práticas camufladas de nova roupagem? Ou será que o modelo da escola italiana realmente traz modificações interessantes no modo de se pensar a educação? Poderia ela nos colocar para refletir sobre nossas práticas de modo a proporcionarmos aprendizagens mais significativas para as crianças?

Esse era o eixo principal da nossa investigação. Saímos para a cidade de Buenos Aires cheias de expectativas, mas também cautelosas. Porque seria importante que, por mais que nos deparássemos com boas práticas, não romanceássemos demais a experiência a ponto de não termos uma visão crítica. Porque, afinal de contas, sabemos que nenhuma escola é perfeita, e é justamente essa consciência de constante incompletude que nos move. Como educadoras e educadores precisamos dessa inquietação. Desse desassossego. Da certeza de que estamos constantemente em devir.

Sabíamos que teríamos muito a observar e registrar e que sem uma pauta clara e objetiva tínhamos uma probabilidade muito grande de querer olhar tudo e não conseguir ver nada. Precisávamos dessa clareza sobre em que aspectos iríamos focar nosso olhar. Claro que ninguém, em situação nenhuma, parte do vácuo. Sempre nos relacionamos com o novo a partir das nossas experiências e conhecimentos prévios, a partir da nossa leitura de mundo e de nossas convicções pessoais. É claro, portanto, que também a nossa interpretação do que veríamos na Aletheia passaría por todos esses crivos.

Para que pudéssemos fazer uma observação bastante criteriosa, achamos por bem listar essas hipóteses acerca do que encontraríamos, que sempre pairam no nosso imaginário, tendo ou não consciência delas.

Dado o que pudemos ler e nos informar tanto sobre a concepção de Reggio Emilia quanto da própria Aletheia, a primeira cena que nos vem à mente é a de um espaço amplo, rodeado por natureza – com a qual, imaginamos, as crianças se relacionem intimamente – e ocupado pelas crianças. Ocupado não apenas com seus corpos, mas pelas suas marcas e gestos, refletidos em produções forrando as paredes.

Ainda sobre a relação com a natureza, imaginamos que os brinquedos sejam de materiais orgânicos e pouco industrializados. Em outras palavras, acreditamos que iremos encontrar brinquedos de madeira, tecidos, cordas e papelão, e até os próprios elementos da natureza incluídos nas brincadeiras das crianças, muito mais do que objetos de plástico em cores berrantes.

 

Uma outra hipótese é em relação aos grupos, que acreditamos serem formados não por idades idênticas, mas por faixas de idade próximas. Também achamos que a postura dos professores seja bastante acolhedora, refletida no jeito de falar, entonação da voz, olhar e escuta atentos e cuidadosos. Já em relação às crianças, imaginamos que iremos encontrar um grupo autônomo, que compreende bem as propostas e o porquê de as estarem realizando. Para que isso seja possível, uma outra coisa que imaginamos é encontrar espaços convidativos e que falem por si. Espaços que deixem muito clara a proposta que o professor quer proporcionar às crianças sem que haja necessidade de muito comando verbal.

Algo que não conseguimos visualizar, são rodas. Aqui nas nossas escolas, mesmo nas mais tradicionais, essa formação é bastante habitual e na Educação Infantil tem esse caráter de pontuar conversas coletivas, numa disposição espacial em que todos possam olhar para todos. Ficamos com a pergunta se esse tipo de formato acontece numa escola como a Aletheia. E essa dúvida vem colada a outras: os professores fazem algum tipo de sistematização sobre os conhecimentos acessados pelas crianças? Os registros, que fazem parte do rol de características da escola nos documentos institucionais e comunicação externa servem apenas para o professor planejar as propostas seguintes ou as próprias crianças tem algum tipo de acesso, de modo a poderem acessar e tomar consciência do próprio processo de aprendizagem e descobertas?

Por fim, um dúvida bastante central, pois que vai ao cerne da concepção da escola. Já sabemos que os professores documentam os processos dos alunos e a partir disso estruturam-se projetos que buscam responder as perguntas do grupo. Como é possível garantir que, a partir de projetos que surgem dos interesses do grupo, as crianças tenham acesso a todas as áreas do conhecimento socialmente relevantes? Isso chega a ser uma questão para os professores ou eles seguem apenas nas investigações propostas pelas crianças?
Durante a próxima semana, mesmo estando aqui com frio e longe de casa, estamos felizes e empolgadas para tentar descobrir as respostas para essas perguntas e um pouco mais!

Priscilla Prudêncio e Natália Rossi

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